sábado, 14 de março de 2009

Modinhas

Alguns historiadores consideram o baiano Gregório de Matos (1623-1696) como um dos precursores da modinha no Brasil. O renomado Silvio Romero refere-se ao célebre poeta baiano como “delicioso cantor de modinhas e tocador de viola”. O fato de não ter restado nenhum documento musical da época comprovando tal afirmação não nos impede de fazer certas suposições, que levam a imaginar o desenvolvimento da moda portuguesa introduzida no Brasil no século anterior, até a sua completa nacionalização como verdadeira modinha brasileira no século XIX.
Este complexo processo de transformações, permeado de influências étnicas extra-européias e nutrido pelo anseio da busca de uma nacionalidade emergente na colônia, resultou em uma forma musical própria e muito fecunda – a modinha, que mais tarde, já no inicio do século XX, será um dos pilares para o surgimento de gêneros musicais essencialmente urbanos, como o choro.
Na gênese da modinha com características brasileiras, o padre mulato Domingos Caldas Barbosa (1740-1800), brasileiro emigrado para Portugal, figura como uma referência fundamental. Sua atividade musical fez furor na Corte portuguesa no final do século XVIII, existindo testemunhos de sua particular habilidade de cantar e tocar viola. Publicou um livro, Viola de Lereno, em Lisboa, 1798, onde constam suas modinhas, infelizmente sem a notação musical das melodias e do acompanhamento.
Uma grande parte das modinhas dos séculos XVIII e XIX, ainda hoje conhecidas, são de autores anônimos e foram transmitidas oralmente através de gerações de seresteiros, sendo finalmente anotadas, após vários processos de transformação, por algum douto estudioso.
Com o aparecimento das casas editoras de música, das gravações e, posteriormente, do rádio, facilitando a divulgação de novidades estrangeiras, a modinha deixou de ter a preferência do público, à medida que outros gêneros apareciam, como a valsa e a polca, entre outros.
No entanto, existe um grande número de modinhas desta época, atestando o enorme sucesso que faziam nos saraus das cidades.


Marcus Mausan.

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