quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Lied: Schubert, Schumman e Brahms


As considerações enquanto forma maior adaptada pelo Lied em seu contexto histórico é de responsabilidade direta de schubert, o pioneiro compositor que dedicou a este gênero a mesma atenção que aos outros, já consagrados pela tradição. Com efeito, nas mão de schubert , o Lied (termo que em alemão significa “canção”) alcançou o mesmo nível que a sinfonia, a ópera, os quartetos de corda ou as sonatas para piano.
Schubert não foi, contudo, o “inventor” dos Lieder. Como qualquer bom criador, este músico, mais do que conceber uma nova experiência, retomou um fermento que já se desenvolvia havia várias décadas. Com o advento do romantismo, os compositores sentiram que a sua expressividade e a dos poetas não só era equivalente, como também podia ser conjugada numa experiência única. A poesia romântica proporcionou-lhes o motivo de inspiração e, a partir dos últimos anos do século XVIII, alguns músicos dedicaram o seu talento à tarefa de musicar poemas. Entre eles podemos destacar, pela sua qualidade de pioneiros, Reichardt, Hiller e Zunsteeg. O próprio Mozart compôs algumas canções em língua alemã, enquanto Beethoven apresentava o ciclo An die ferne geliebte (À distante amada), contemporâneo dos pioneiros Lieder de Schubert. A criação monumental deste último cimentou as bases do Lied posterior, exemplificando nas obras de Schumman, Brahms e outros, recreadores de um gênero cuja referência continuava a ser Schubert.
O encadeamento histórico existente entre Schubert, Schumman e Brahms, demosntra grande afinidade e peculiaridade em seus Lieder.
As composições em forma de Lied transmitem o mais puro romantismo. O poema se encontra em grande evidencia e, juntamente com o canto traz em seu conjunto uma rica melodia e harmonia.
O Lied é um gênero musical que tem como característica a beleza e o sentimento mais profundo do romantismo. Um poema lírico, no qual as palavras se fundem de uma forma completa, integral e plena. É uma criação musical que, surge como se cada palavra engendrasse sua própria melodia.

Schubert:

Franz Schubert foi um dos compositores mais fecundos e inovadores do romantismo. Compôs mais de seiscentos Lieder, dentre os mais conhecidos podemos destacar O rei dos elfos que data de 1815 e Margarida na roca escrita em 1814 (poemas de Goethe). As duas composições citadas marcaram o gênero do Lied e são consideradas as obras mais belas de toda a sua produção.
A ascensão de schubert deve-se ao grande barítono Vogl, que ao ter contato às obras de schubert encantou-se de tal forma que estabeleceu-se uma relação de amizade que durou vários anos. Vogl era um cantor de renome, contudo, schubert saiu a ganhar, pois, para além da amizade de Vogl, o mesmo representou também a chave que permitiu abrir novas portas nos herméticos ciclos musicais vienenses, cantando os fabulosos Lieder de Schubert.
Levando-se em consideração a peculiaridade de Schubert em seus Lieder, podemos perceber em alguns, o gosto pela repetição das palavras e da melodia. Repetição essa que perpetua musicalmente tornando-se assim, marcantes, inesquecíveis e emocionantes, pois expressam o mais puro sentimento romântico.

Schumman:

Para dar continuidade histórica ao gênero, é mister citar o compositor Robert Schumman. A descoberta da obra de Franz Schubert inspirou-lhe os seus primeiros Lieder, gênero do qual é o máximo representante, a seguir ao grande compositor Schubert pelo menos ao que se refere à primeira metade do século XIX.
Schumman era um homem que sofria de perturbações mentais e vivia um grande amor com a pianista virtuose Clara Wieck, filha de um dos professores de Schumman, Friedrich Wieck. O pai de Clara proibia o namoro dos dois, por conta da fama de loucura e condições financeiras de Schumman.
A situação entre Clara e Schumman, que tinha chegado a um ponto crítico em 1840, traduziu-se no campo da composição na produção de 138 Lieder agrupado numa série de ciclos que se encontram entre os mais bonitos de todo o século XIX. Como se a iminência da resolução da sua infeliz história com Clara se tivesse tornado consciente em Schumman, a sua veia lírica alcançou durante esse ano, e por meio das canções extremos muito elevados. Entre os ciclos de Lieder compostos naquele ano tão prolífico podemos citar o Liederkreis (Ciclo de lieder), baseados em poemas de Heine.
Os Lieder de Schumman em sua maioria, distingui-se pela sua atmosfera de fantasia, muito romântica, são composições articuladas em torno de um plano tonal concreto. Suas composições expressam também o seu amor pela natureza, apoiando-se em textos como os de Eichendorff.
A intensidade de Schumman, o lirismo e mestria na união da linha melódica da voz com o acompanhamento do piano e, sobretudo, pela variedade de seus registros, articulados, no entanto, a volta de uma atmosfera unitária, fazia com que as composições de schumman obtivessem uma ligação ou um elo com as de schubert. Soando então, como um seguimento ou até mesmo uma evolução natural do gênero.
Dichterliebe (Os amores do poeta) é um ciclo de Lieder que contém textos de qualidade excepcional, compostos por Heine. Este ciclo é considerado até hoje como um dos mais importantes do romantismo.
Talvez pela conturbada vida de Schumman suas obras tenham alcançado um nível romântico de muita inspiração. A heterogeneidade das fontes textuais também se traduziu nas composições musicais de Schumman, respirando-se o amor, o desejo, a ansiedade e todos os sentimentos entre os quais Schumman flutuava nos períodos cruciais da sua vida.

Brahms:

O compositor Johannes Brahms deu então, seguimento ao néctar do romantismo, ou seja, aos Lieder. Dentre tantas outras obras compostas por Brahms o Lied também foi uma da s suas principais marcas.
Ao conhecer o casal Clara e Robert Schumman, Brahms já demonstrava grande admiração pelas obras do compositor e não era indiferente ao grande talento de pianista da sua esposa. Por seu lado, Schumman simpatizou imediatamente com o jovem que para lhe agradar interpretou ao piano a sua sonata em Dó Maior na noite do primeiro encontro dos compositores. A admiração de Schumman por Brahms foi tão imediata e profunda que no dia a seguir ao serão em que se conheceram escreveu um artigo laudatório para uma editora a qual fazia parte, no qual se referia ao seu novo amigo como a “um novo gênio”.
A arte de Brahms para com os Lieder traz em sua essência o valor do conservadorismo ao gênero, um procedimento de continuidade com suas características peculiares.
Brahms realizou uma obra criadora, numa profunda solidão. É notável em seus Lieder os mistérios do mundo invisível revelando-se em maravilhosas visões. Suas caminhadas solitárias pelos campos eram pontos inspiradores para o compositor. Sua admiração por clara Schumman era singular e, até mesmo depois da morte de Schumman perpetuou-se uma grande amizade a qual Brahms gostaria que tivesse se tornado algo mais sério, mesmo um relacionamento.
Muitos de seus Lieder são baseados em seus amores não correspondidos e, o amor platônico que sentia por Clara lhe rendeu grandes composições como no seu Meine Lieder – opus 106, n º 4.
Imerso no delírio da inconsciência, por vezes evocava passagens das suas cartas a Clara Schumman, trechos das conversas que haviam tido e que podem ser encontradas em seu Meine Lieder.
O profundo sentimento do amor, dos sons que oscilam ao seu redor, visões difusas da felicidade e os cantos que ressoam melancolicamente... Era assim que se traduzia o mais profundo sentimento de Brahms em seu romantismo e, o principal veículo desse sentimento eram os seus Lieder.


O encadeamento que consiste nas obras de Schubert, Schumman e Brahms revela o intimo maior do romantismo. É notável também as semelhanças em suas personalidades que historicamente revelam a serenidade e o intimismo intelectual.
Outros compositores deram continuidade ao gênero, assim como antes de Schubert é reconhecido Lieder feitos por outros compositores. Mas, os três em questão, encadeiam-se em perfeita forma, fazendo deles os principais compositores do gênero.


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